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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

"Pro pai é fácil"- relato de um pai que está longe.


 
 
“Pro pai é fácil.”

Todo relacionamento que acaba gera dor, é muito triste quando duas pessoas que sorriram juntos não conseguem mais conviver, ainda mais quando uma nova vida vem se formar. Afastamo-nos antes mesmo de saber que o jardim estava semeado, a semente cresceu num canteiro longe de mim. Saber daquilo mexia comigo, mas não tanto quando me entregaram pela primeira vez e vi as bochechas sujinhas de iodo a dormir enrolada numa manta lilás.

Cada dia que passava aquelas bochechas pareciam um pouco menores, os olhos mais atentos, os sorrisos mais frequentes, os dedinhos mais fortes, a língua mais agitada, perninhas expressivas que se batiam de alegria, empurravam de birra, até começarem a arrastar o corpo, que logo começava a morder tudo. O tempo passava e pensando em fazer o melhor pra ela comecei a cometer meus erros, alguns acertos também, é claro.

Trabalhando pelas estradas a saudade era grande a semana inteira, e tentar voltar com a viver com a mãe para estar perto da filha, claro que não daria certo! O segundo rompimento, talvez mais dolorido, que nos separou por 2300 km, estados diferentes, passagens de ida, passagens de volta gastos enormes e desemprego!

Quando tudo parecia perdido ela voltou, sua mãe se casara novamente. Fiquei feliz, a distância era de apenas 450 km e toda quinzena estava comigo. Meu melhor sorriso, meus banhos de praia, castelos de areia, folias com a Pepa e danças com Backyardigans, xixi na cama, brigas com o sono e com a cadeirinha do carro, ler e interpretar os três porquinhos de 5 a 8 vezes por noite, esconder legumes na comida.... Enfim parecia que estava indo tudo bem, até que o tal novo padrasto e a mãe “abandonada” decidem que a minha princesa devia considerar e chamar o dito cujo de pai também, e ainda limitar minha presença e participação (presencial é claro, financeira nunca foi podada). Tudo bem, para evitar conflito e não fazer a única pessoa sem culpa da história sofrer e ver brigas entre os pais eu decidi tentar conviver e me precaver judicialmente, além disso decidi fazê-la feliz comigo e mostrar pra ela o que vejo da vida quando estiver em sua companhia, acredito que o amor é indestrutível.

Até que o esperado acontece e depois de pouco tempo a mãe e o “novo pai, perfeito e presente” desentende-se e os 2 300km voltam....

Não sei se é bom ou ruim, o pior é que hoje o Skype é meu melhor amigo quando dá. Eu não posso largar tudo e ir pra lá, preciso continuar, mandar a renda pra suprir sua escolinha, plano de saúde e tomara que consiga continuar no balé que ela adora tanto, pensar em seu futuro financeiro e educacional também....

Hoje meu dia é saudade, olhando fotos e seus brinquedos que ficaram. Saudade, que sentimento cruel, tão dolorido e tão bonito que não nos deixa ter raiva, ela só causa a dor e ainda é bem quista.

Muitas coisas ruins, como ouvir por aí que “quando os pais se separam para o pai é fácil, que não tem que mudar sua vida, se privar de festas, de perder noite, de educar, não muda o corpo, não muda nada!!!!”

Sei que criar uma criança é difícil. Quando estou com ela faço seu almoço, sua janta e seu café; eu que dou a comida, o banho e escovo os dentes; sei que um simples banho é difícil de entrar e as vezes mais difícil ainda de sair; sei que o sono dói; que correr atrás de criança que anda o tempo todo cansa mais que um dia de trabalho num curral com 400 vacas; sei que tirar a fralda vai te fazer acordar de madrugada pra trocar lençol e se estiver dormindo junto pra aproveitar o pouco tempo te fazer tomar banho (como dica coloque um saco de lixo e uma toalha embaixo para não ter que lavar o colchão também); sei que tem que aproveitar o tempo que ela dorme pra cuidar de si, sei que as vezes a gente perde a paciência e sente vontade de dar umas palmadas ou um sonífero.

Mas sei também, e muito bem que pior que tudo isso é não estar perto; não ver sua satisfação ao conseguir comer sozinha; fazendo descobertas anatômicas, como que o papai tem piu piu, ela tem pepeca e o gatinho tem rabo; difícil é não sentir o cheiro de seu cabelo; é não brigar porque ela tirou meleca e passou em mim enquanto via desenho; difícil é não poder ensinar e mostrar um monte de coisa o tempo todo; é ver seus olhinhos brilhando ao ver um cavalo; difícil é ser veterinário e pensar nela todo dia ao ver um cavalo; é esperar seu sorriso tímido ao te ver; é o medo de se tornar um estranho para quem você mais ama, é o medo de não estar lá quando ela precisar, quando ela chorar,,,

Trocaria todas as festas, noites, liberdades, viagens se pudesse ser acordado todo domingo as 7:00 h da manha com um tapinha no rosto me dizendo : “papai, pá lá bincá de pocotó.... eu sou a rainbow dash viu!!!!”
 
Obs: O Pai que escreveu este texto para o Blog solicitou anonimato.

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